quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Resíduos para reciclagem duplicaram em cinco anos

Apesar da crise, continuou a aumentar no ano passado a quantidade de resíduos sólidos urbanos produzidos por cada cidadão português. Só o volume com origem na construção civil se retraiu. O recurso à reciclagem cresceu, mas estamos ainda longe da Europa.
Cada português originou, em 2009, cerca de um quilo e 680 gramas de resíduos sólidos urbanos por dia. O cálculo pode ser feito a partir do montante anual indicado pelo Instituto Nacional de Estatística: 511 quilos, um aumento significativo, se for tida em conta a média do período entre 2004 e 2009, estimada em 470 quilos.
Os números agregados pelo INE a partir dos sistemas de registo das entidades gestoras de resíduos mostram que se tem verificado “uma evolução favorável” nas quantidades de resíduos recolhidas selectivamente.
Entre 2004 e 2009 elas duplicaram, crescendo cerca de 15% ao ano, conta que engloba todo o tipo de materiais (pneus, por exemplo) e não só os que têm origem doméstica. Contudo, ainda terão de crescer mais para se atingir a média comunitária. No ano passado, ainda estávamos em 57% da média da UE.
A fileira do vidro é a que tem tido mais sucesso na recolha selectiva ao longo dos anos, mas a este material impuseram-se mais recentemente o papel e o cartão. Eles são agora os mais colocados para reciclagem. Para tanto concorre a participação do comércio e serviços. Fora do âmbito doméstico, também os veículos em fim de vida contribuiram para o aumento da reciclagem.
A soma dos resíduos produzidos por Portugal entre 2004 e 2009 foi de 172 milhões de toneladas, evidenciando um crescimento anual de 3% nesse período. Aquele total inclui desde resíduos de construção às pedreiras e indústria. Quase 20 milhões daquele conjunto foram resíduos perigosos.
O relatório do INE aponta como desafios para o futuro a redução da geração de resíduos e o aumento dos níveis de reciclagem e valorização. E na valorização não inclui propriamente a valorização energética (incineração) mas sim processos como a compostagem. É mesmo referido que a queima de resíduos ainda vai buscar 8% dos resíduos encaminhados para reciclagem.
O documento aponta também a necessidade de “desviar os resíduos valorizáveis dos aterros”, no caso dos compostos orgânicos, para fazer adubos verdes. O fim de vida dos aterros não chegaria, assim, tão depressa.
Para a presidente da Quercus, “estamos muito aquém” de metas desejáveis na reciclagem, tendo nós metas menos exigentes que outros parceiros europeus. Mas o que Susana Fonseca salienta é que “não houve coragem política de pôr em prática medidas como a redução de embalagens”.
A dirigente ambientalista considera que “nunca tivémos uma verdadeira prevenção de resíduos” e que foi perdida a tradição da reutilização, já irrecuperável agora. Por outro lado, afirma, há recursos nos resíduos (como os metais) que Portugal está a desperdiçar.

Eduarda Ferreira
In http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1634081

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