terça-feira, 20 de maio de 2008

Três anos para vacina da meningite B


Investigadores de uma companhia farmacêutica suíça, a Novartis, concluíram com êxito testes decisivos no desenvolvimento de uma futura vacina contra a meningite B. Os ensaios envolveram 150 crianças e decorreram no Reino Unido, com "fortes respostas" nos respectivos sistemas imunitários. Apesar do entusiasmo com a perspectiva da solução para uma doença considerada perigosa, a comunidade científica e as autoridades de saúde reagem com prudência, sublinhando que poderá levar alguns anos a produzir uma vacina eficaz.

"É uma descoberta importante, mas temos de aguardar com calma", sublinhou ao DN a sub-directora geral de saúde, Graça Freitas. O licenciamento de uma vacina poderá levar "vários anos", que poderão ir de dois a três, mas se a "relação entre a protecção e o custo for parecida" com a que se verifica na vacina para a meningite C, pode ser decidida a introdução do novo produto no programa nacional de vacinação.

De qualquer forma, esta será sempre uma decisão política, após análise cuidadosa e um longo processo de aprovação, que não levará menos de dois ou três anos. Na realidade, este processo pode até ser mais tempo, caso haja necessidade de repetir testes. Graça Freitas disse ao DN que esta é uma "notícia boa", que está a ser acompanhada com atenção. A esperança é grande, pois "as farmacêuticas que trabalham com vacinas são muito rigorosas".

A meningite B atinge anualmente cerca de 120 a 130 pessoas, em Portugal, com uma mortalidade ligeiramente inferior a 10%. As vítimas da meningite são geralmente crianças. Um terço dos casos (isto, para todas as diferentes meningites) envolve menores com menos de 4 anos. Os casos de pessoas com mais de 44 anos têm uma proporção de apenas 0,2%.

Segundo números oficiais, em 2006 morreram três portugueses com meningite B, havendo quatro casos em que não houve tempo para identificar o tipo de meningococo envolvido.

Existe nas farmácias uma vacina muito eficaz para a meningite C, já adoptada pelo Programa Nacional de Vacinação e que oferece protecção quase total, desde que seja seguido o calendário previsto. Com base nas estatísticas existentes, as autoridades calculam que esta vacina evite cerca de uma centena de casos anuais deste tipo de meningite, evitando oito ou nove mortes anuais. O custo para o Estado, também anual, é de 3 milhões de euros.

A nível mundial, a meningite mata milhares de crianças todos os anos. Trata-se de uma infecção da meninge, que uma membrana de protecção do cérebro. Esta infecção tem diversas causas possíveis e carácter sazonal.

O que mais assusta os pais é o facto da doença ser devastadora e, sobretudo muito rápida, podendo matar em menos de um dia uma criança aparentemente saudável. Também são graves as eventuais sequelas para os sobreviventes, desde atrasos mentais a surdez, passando por sérios problemas neurológicos.

A meningite B é provocada por uma infecção por meningococo do chamado serogrupo B. Em vários países foram desenvolvidas vacinas, mas que protegem apenas contra estirpes de bactérias existentes naquelas regiões.

Em vários países europeus, a notícia foi recebida com evidente entusiasmo. A BBC cita um especialista britânico, Steve Dayman, segundo o qual a "bactéria de meningite B é incrivelmente complexa e desenvolver uma vacina foi sempre um dos maiores desafios" no sector. Mas, por enquanto, todos falam apenas em "desenvolvimento encorajador "e alertam para o excesso de expectativas e a necessidade de esperar alguns anos.

Fonte: LUÍS NAVES, in DN.

Sem comentários: