domingo, 11 de maio de 2008

Febre da carraça aumenta com aquecimento global

Jogadores do Euro 2008 já estão a ser vacinados
As alterações climáticas podem potenciar, em Portugal, o aparecimento de novas doenças e o ressurgimento de algumas que têm vindo a diminuir, como a febre da carraça. O número de casos registados tem vindo a descer nas últimas décadas, à medida que as populações abandonam o meio rural, mas os aumentos da temperatura previstos podem favorecer as condições para o reaparecimento desta patologia, que nas últimas semanas voltou à ribalta a propósito do Euro 2008.

A febre da carraça do centro da Europa está a preocupar os organizadores da competição, que vai jogar-se na Suíça e na Áustria já no próximo mês. O departamento médico da selecção nacional enviou mesmo recomendações aos clubes onde jogam internacionais portugueses para que os jogadores sejam vacinados, apesar de reconhecer que se trata apenas de uma precaução, já que o risco é muito baixo.

A febre da carraça da Europa central é uma patologia que pode surgir nos meses quentes, sobretudo depois do período das chuvas. No caso do Euro 2008, as selecções tomaram precauções adicionais porque os jogadores vão estar em contacto com a relva, nos jogos e nos treinos.

A subdirecto- ra-geral da Saúde, Graça Freitas, salienta que a encefalite transmitida por carraças na Europa central é uma doença diferente da que se verifica em Portugal. A febre escaronodular ou mediterrânica é uma zoonose que afecta os países mediterrânicos. O nome "remete para a erupção que fica no local onde a carraça faz a inoculação, uma espécie de crosta escura", explica a médica. "O problema não são as carraças, mas o que têm no interior. São esses microorganismos que provocam a doença." Geralmente as carraças preferem alimentar-se de pequenos mamíferos, aves e répteis, mas ocasionalmente também picam humanos. A febre é causada por um parasita, a rickettsia conorii, que é transmitida ao homem pela carraça. No caso da encefalite da Europa central, trata-se de um vírus que afecta o sistema nervoso central.

O número de casos tem vindo a cair nos últimos anos, com excepção de 2004, mas a febre da carraça continua a ser a doença com características sazonais e regionais mais notificada em Portugal. Além disso, um estudo do Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas estima que haja sete vezes mais casos do que os que são declarados, apesar de a doença ser de notificação obrigatória. A maior parte dos casos ocorre no Verão e Outono, quando a carraça passa de larva a ninfa, uma fase em que está mais activa. Por outro lado, verifica-se uma distribuição heterogénea pelo território: Bragança e Beja são os distritos com mais casos e a região transmontana apresenta mesmo uma das mais elevadas taxas de mortalidade da bacia do Mediterrâneo.

No entanto, "se for detectada a tempo, não é problemática, tem uma evolução benigna e pode ser tratada com antibióticos", explica Graça Freitas. A doença tem um período de incubação de três a sete dias e manifesta-se com febre, dores musculares e de cabeça, náuseas, vómitos e perda de apetite. Mas o melhor é apostar na prevenção, diz a médica: em áreas de matas ou rurais, aconselha-se atenção redobrada.
Fonte: PATRÍCIA JESUS, in Diário de Notícias.

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