Desde criança que Steven vinha perdendo a visão. Aos 18 anos já não via de noite e em breve deixaria completamente de ver e de se poder movimentar na sua cidade, Bolton, no Reino Unido. Mas uma terapia genética inovadora desenvolvida por uma equipa do Moorfields Eye Hospital veio devolver-lhe a esperança e parte da sua capacidade de visão. O caso de Steven, contado pelo New England Journal of Medicine e por vários outros órgãos ingleses, é o exemplo de que a terapia pode resultar. Mas há outros casos documentados quer no Reino Unido quer nos Estados Unidos. Embora os outros pacientes não tenham recuperado totalmente a visão, os resultados preliminares indicam que este tratamento pode impedir o desenvolvimento da amaurose congénita de Leber, uma degenerescência rara incurável dos receptores de luz da retina, que leva à cegueira total.Os oftalmologistas usaram como vector um adenovírus modificado para introduzir, atra- vés de uma injecção na retina, milhões de ver- sões normais do gene RPE65 - cuja mutação é responsável pela amaurose congénita. Duas semanas após a intervenção, a maioria dos pacientes, que antes só detectavam o movimento de uma mão à sua frente, passaram a conseguir ler linhas do quadro usado pelos oftalmologis- tas para testar a visão. Mesmo nos casos onde os benefícios não são tão evidentes, os resulta- dos deste ensaio clínico mostram uma melho- ria da capacidade da retina de captar a luz.No entanto, os investigadores explicam que não esperavam resultados totais em adultos, uma vez que já tinham um grau elevado de cegueira. O passo seguinte será aplicar esta terapia em crianças, com os olhos menos deteriorados e que, por isso, deverão ter uma resposta mais acentuada. "Pensamos que as melhorias da visão seriam ainda mais pronunciadas se este tratamento fosse realizado na infância, antes da doença", afirmou Jean Bennet, professor de Oftalmologia na Universidade da Pensilvânia, nos EUA.Esta é uma área de pesquisa onde, nos últimos 15 anos, quase não houve avanços. "Aquilo que demonstrámos, até agora, é a prova de que a terapia genética pode ser usada para tratar uma desordem genética particular", explicou James Brainbridge, um dos cirurgiões que operou Steven. "Isto é apenas o princípio."
Fonte:MARIA JOÃO CAETANo, in Diário de Notícias, 29/04/08
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