quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estudo mostra como é possível salvar ursos polares cortando nas emissões de CO2

Se o gelo que cobre o Árctico desaparecer, por baixo está sobretudo água. E como os ursos polares não conseguem andar sobre a água, percebe-se por que é o aquecimento global, que faz derreter os gelos do Árctico, pode representar o seu fim. Previa-se que em meados do século não sobrevivessem mais do que 7000 destes animais que representam o próprio Árctico. Agora um novo estudo diz que não estão condenados a desaparecer assim — mas só se as emissões de gases com efeito de estufa forem muito reduzidas nos próximos anos.
Não é por acaso que o nome científico dos ursos polares é "Ursus maritimus". Dependem das plataformas de gelo para chegarem às suas presas (focas) e, se o mar não estiver coberto de gelo tempo suficiente, eles não se conseguem alimentar bem e fazer reservas para os meses de Verão. Os efeitos do aquecimento global — sentido com mais intensidade no Pólo Norte, que é uma espécie de ar condicionado do planeta — tem tornado os ursos polares mais pequenos, e feito com que a sua saúde sofra e os seus números se tenham reduzido.
Foi assim que um estudo dos serviços geológicos dos Estados Unidos apontou, em 2007, para que a actual população de 22 mil ursos polares se tivesse reduzido em dois terços em meados do século.
Os modelos computadorizados usados para prever isso — simulando como o clima evoluía e, com ele, os ecossistemas do Árctico — apontavam para um ponto de não retorno, o chamado "tipping point": um momento a partir do qual as temperaturas, cada vez mais altas, impedissem que os gelos voltassem a formar-se como antes.

Não há "tipping point" se...

O que vem dizer o novo estudo, que tem honras de capa na edição de quinta-feira da revista científica "Nature", é que não existem esses momentos em que tudo muda — mas só se ocorrer uma redução dramática das emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal gás com efeito de estufa. O primeiro autor é Steven Amstrup, um investigador reformado da US Geological Survey, e membro da organização Polar Bears International, no Montana, que fez parte da equipa de 2007.
Os modelos matemáticos que a sua equipa utilizou agora exigem uma redução drástica das emissões, e que ela ocorra em breve, de forma a que a quantidade de CO2 na atmosfera estabilize em 450 partes por milhão até ao final do século. Mas hoje, os níveis são de 388 partes por milhão e espera-se que o CO2 atinja — ou supere — a concentração de 700 partes por milhão na atmosfera até ao fim do século XXI.
É portanto uma aposta num cenário optimista a que propõe a equipa de Amstrup. Mas apresenta também argumentos científicos para demonstrar que há motivos para ter optimismo.
Mostram que mais habitat seria poupado se fossem reduzidas as emissões de gases com efeito de estufa. E nessas condições os ursos polares poderiam persistir “em números muito maiores e em mais áreas” do que era contemplado no estudo de 2007. Concluiu também que não é inevitável haver um ponto de não retorno a partir do qual os gelos deixem de ser suficientemente vastos e sólidos para que os ursos polares possam caçar neles.
A nova análise levou em conta também a recuperação das camadas de gelo após 2007 — o ano em que a cobertura do Árctico atingiu o ponto mais baixo desde 1979, ou seja, desde que se fazem registos por satélite.
O estudo de 2007 levou os EUA a classificar no ano seguinte os ursos polares como uma espécie ameaçada — uma medida reclamada pelos ambientalistas há muitos anos, porque alguns habitats destes animais no Alasca são cobiçados por petrolíferas. No mês passado, foi classificada como “habitat crítico” uma área de 484.734 quilómetros quadrados, 95 por cento dos quais no mar, mas perto da costa, em áreas que podem ter grandes depósitos de petróleo.
E este novo estudo, o que pode fazer? “São provas científicas de que há esperança”, disse Steve Amstrup, numa conferência antes da publicação do estudo. “Se as pessoas pensarem que não há nada a fazer, não farão nada. Mas nós demonstrámos que é possível conservar os ursos polares.”

A ameaça dos "pizzlies"

Mas as ameaças aos gigantes do Árctico multiplicam-se neste mundo cada vez mais quente. No mesmo número da "Nature" fala-se de outra, a dos "pizzlies": animais que são cruzamentos de ursos polares com ursos pardos ("grizzlies"), que têm o pêlo branco com manchas escuras.
O recuo do território dos animais adaptados ao Árctico — como os ursos polares — favorece o cruzamento com espécies de áreas mais a sul, como o grizzlies. Isto tenderá a levar ao desaparecimento dos animais do Árctico, defende a equipa de Brendan Kelly, da agência para os oceanos e a atmosfera (NOAA). O primeiro "pizzly" foi detectado em 2006 e o mesmo fenómeno de cruzamento está a acontecer com outros animais, como as baleias.

Clara Barata
http://ecosfera.publico.pt/biodiversidade/Details/estudo-mostra-como-e-possivel-salvar-ursos-polares-cortando-nas-emissoes-de-co2_1471166

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