sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O que é a biodiversidade?

A biodiversidade ou diversidade biológica é a “variabilidade entre organismos vivos de todas as origens [...]; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies e dos ecossistemas” (Convenção da Diversidade Biológica).
A biodiversidade está distribuída heterogeneamente na Terra, com áreas de grande diversidade (os chamados “hot spots”, como as florestas tropicais e os recifes de corais), outras com pouca diversidade (como os desertos e as regiões polares) e ainda outras, com alguma diversidade. Dos 25 “hot spots” no mundo, apenas dois se encontram parcialmente na Europa: na bacia mediterrânea e no Cáucaso.

Ameaças de sobrevivência

A biodiversidade tem aumentado desde a origem da vida terrestre, embora de forma descontínua, atingindo o seu pico máximo antes do aparecimento da humanidade e tendo vindo a decrescer desde então.
O problema da redução da biodiversidade assumiu, principalmente nas últimas décadas, proporções nunca antes atingidas, conforme aponta o Relatório da Diversidade Biológica, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) em 1995.
A taxa actual de extinção é cerca de 100-1000 vezes superior à taxa natural. Cerca de 99.9% das espécies terrestres estão extintas e a sobrevivência de muitas está ameaçada, como o Panda na China, os gorilas em África (o Gabão e a República do Congo possuem cerca de 80% da população mundial de gorilas), o lobo e o lince ibérico em Portugal (estima-se que não haja mais do que 50 linces ibéricos em Portugal). Cerca de 8.5% das espécies de vertebrados ameaçadas globalmente ocorrem na Europa e na Ásia Central.
Muitas actividades humanas têm contribuído para a perda de biodiversidade (à nossa escala temporal), sobretudo pela consequente destruição de habitats (pela construção de urbanizações e infra-estruturas), sua poluição e sobreexploração (nomeadamente por actividades industriais, pelo uso intensivo agrícola e silvícola do solo e pesqueiro das reservas aquáticas mundiais).
A riqueza local de espécies pode variar grandemente, consoante as condições físicas (como o clima) e espaciais assim como com a intensidade do uso do solo, como se observa pela Figura 1.

Figura 1 – Riqueza de espécies por tipos de habitats (Fonte: EEA, 1998)


Assim sendo, as estratégias de conservação deverão ser diferenciadas geograficamente e adaptadas à intensidade agrícola e às demais características das explorações[1].
A agricultura pode ser vantajosa em termos de biodiversidade: apesar de ter eliminado áreas de habitats naturais e ter trazido problemas de contaminação desses habitats, por outro lado, também criou novos habitats para muitas espécies. Das cerca de 453 espécies de aves que ocorrem regularmente na Europa, a sobrevivência de 150 dependem da agricultura sustentável, como o Peneireiro das Torres. Entre as aves mais ameaçadas encontram-se a abetarda e a codorniz.
De acordo com o Livro Branco sobre o Ambiente em Portugal (1991), uma parte significativa das espécies selvagens depende da manutenção dos processos de agricultura tradicional e das explorações agrícolas de pequena e média dimensão. Os agricultores e gestores de zonas de caça, efectuando algumas mudanças nas suas práticas agrícolas e de ordenamento cinegético, representam assim importantes agentes para a conservação da natureza e diversidade biológica.
Também o turismo em massa pode exercer pressões negativas sobre a diversidade biológica, pela fragmentação do solo, sua compactação e pela poluição causada pelos transportes, ao passo que o turismo sustentável promove a criação de empregos adicionais às comunidades locais, motivando-as para a protecção do ambiente e harmonizando os interesses do sector do turismo com a preservação da biodiversidade. Por exemplo, a conservação da biodiversidade da África Central é importante não só em termos ecológicos como também oferece uma fonte potencial de receitas através do desenvolvimento do eco-turismo.
A introdução de espécies não indígenas na natureza pode também originar quebras na biodiversidade (para além de poder colocar em risco a saúde pública), pela sua competição com espécies nativas e pela transmissão de patogénicos, muitas vezes de forma irreversível e de difícil contabilização. Além disso, o controlo ou a erradicação de uma espécie introduzida invasora, como a acácia ou o jacinto-de-água, é especialmente complexo e oneroso. No entanto, há casos em que essa introdução e a sua exploração podem motivar o desenvolvimento da economia nacional, como o que aconteceu em Portugal para o caso da batata e do milho.
A sobrevivência de muitas das espécies actualmente existentes e a protecção do seu habitat estão, portanto, dependentes de uma mudança de atitude por parte do Homem.

Porquê valorizar a biodiversidade?
Na natureza todas as espécies são importantes, mesmo as que aos nossos olhos possam parecer insignificantes, como provam os usos que o Homem tem encontrado para muitas espécies faunísticas e florísticas.

A manutenção da diversidade biológica reveste-se de grande importância em termos:

·-Económicos (por exemplo, nos EUA, os benefícios económicos garantidos pelas espécies selvagens rondam os 4,5% do seu Produto Interno Bruto):
- Valor Consumptivo e Produtivo (alimentos, materiais de construção, combustível, madeira, fibra, resina, fontes genéticas,...);
- Espaço de lazer, inspiração (pela beleza estética), turismo (observação de aves, pesca desportiva, parques naturais,...) e criação de emprego – em 1991, nos EUA, as actividades recreativas associadas à observação de aves gerou mais de 20 milhões de dólares e 250 000 postos de trabalho;
- Valor científico e educacional;
- Valor de existência (desejo de pagar pela conservação de determinadas espécies ou habitats).
- Sociais (tradições, simbolismo, espiritualidade);

- Ecológicos:
- Suporte da vida;
- Controlo de cheias;
- Protecção do solo contra a erosão;
- Filtração da água e purificação do ar;
- Polinização;
- Regulação do clima.

Existem muitos outros factores que evidenciam a necessidade de preservação da biodiversidade:
- Todas as espécies são interdependentes – a perda de uma espécie pode ter consequências inimagináveis sobre outros membros da comunidade; é o caso da ave Dodo, extinta no séc. XVIII, que se alimentava de sementes de uma árvore, a "Calvária", actualmente também em risco de desaparecer. A semente desta árvore só conseguia germinar depois do Dodo se alimentar do seu fruto e de "gastar" a casca grossa da semente. Hoje existem apenas 13 árvores de "Calvária" no mundo;
- Os habitats e ecossistemas ainda estão pouco estudados: apenas 13% de aproximadamente 14 milhões de espécies que habitam o planeta estão descritos pelos cientistas; a extinção de espécies poderá eliminar hipóteses de cura de doenças ou de pistas científicas importantes relativas à história da evolução e da origem da vida;
- A biodiversidade nos oceanos é fundamental para a grande produção de oxigénio e consumo de dióxido de carbono e é fonte de proteína animal para a população humana;
- A biodiversidade fornece muitas vezes soluções para os actuais problemas de poluição e doenças[2]. A medicina tradicional constitui a base dos cuidados médicos primários para mais de 80% das pessoas em países em desenvolvimento, estando a conquistar também os países mais desenvolvidos.
A biodiversidade aumenta a produtividade das comunidades de plantas e a retenção de nutrientes. Quanto mais complexo um sistema, isto é, quanto maior a sua biodiversidade, maior será a sua estabilidade. Por exemplo, a aplicação irracional de produtos fito-farmacêuticos pouco selectivos, como o DDT, no combate a determinadas pragas, tem conduzido à redução da biodiversidade com consequente proliferação de pragas, como o aranhiço vermelho, pela destruição não selectiva dos seus inimigos naturais.
Os agricultores têm assim vindo a aprender a não menosprezar a biodiversidade das suas explorações no combate a quebras de produtividade e face a alterações das condições ambientais. Daí que o recurso à agricultura biológica tenha ganho cada vez mais adeptos: esta apoia-se no desenvolvimento da biodiversidade nos campos de forma a controlar a proliferação de patogénicos e de pragas, mantendo e melhorando a produtividade do solo. No entanto, há culturas para as quais a AB ainda não constitui uma boa solução alternativa, como se verifica para os frutos frescos, na maioria das vezes afectados com doenças provocadas por fungos.
“Para além do seu valor intrínseco, a biodiversidade determina a nossa capacidade de adaptação às circunstâncias em mutação. Sem uma biodiversidade adequada, acontecimentos como as alterações climáticas e as epidemias estão mais sujeitos a exercer efeitos catastróficos.” [3]
“A espécie humana depende da biodiversidade para a sua própria sobrevivência, estimando-se que, pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos”. [4]
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[1] Grupo de trabalho em Agricultura e Ambiente, 5ª reunião, Conselho para uma estratégia pan-europeia de diversidade biológica e da paisagem, Março 2002.

[2] Grande parte das drogas sintéticas, incluindo o ácido acetil salicílico da aspirina, foram inicialmente descobertas em plantas e animais selvagens; o taxol, extraído do teixo, tem sido utilizado no tratamento de tumores ováricos; as drogas anti-cancerígenas, desenvolvidas a partir da planta selvagem de pervinca, permitiram aumentar a taxa de sobrevivência de crianças com leucemia em 60%, desde 1960. O que seria de nós se se tivesse extinguido o teixo ou a previnca antes de descobrirmos os seus benefícios?

[3] Comunicação da Comissão Europeia ao Conselho e Parlamento Europeu relativa a uma Estratégia da Comunidade Europeia em matéria de biodiversidade, Fevereiro 1998.

[4] Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Setembro 2001.

(retirado de:http://www.confagri.pt/Ambiente/AreasTematicas/ConsNatureza/TextoSintese/Antecedentes/)

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