sexta-feira, 4 de julho de 2008

Mercúrio tem muitos vulcões e pouco ferro


Sistema solar. Sonda 'Messenger' da NASA tem chegada prevista a Mercúrio em 2011, mas fez primeira aproximação ao planeta em Janeiro. Observações mostram novidades do primeiro planeta

Primeiro planeta do sistema solar mostra face oculta
Mercúrio, o planeta mais chegado ao Sol, tem novidades para contar. Depois de a nave Messenger, da NASA, ali ter feito uma aproximação, a 14 de Janeiro, os resultados dessa observação são hoje publicados na Science. Pela primeira vez foi agora observada uma região de Mercúrio nunca antes estudada, e os dados indicam que o primeiro planeta do sistema solar tem intensa actividade vulcânica. Em, contrapartida, as suas rochas parecem pobres em ferro.

A Messenger é a primeira sonda enviada a Mercúrio desde que a Mariner 10, também da NASA, ali passou por perto, em três voos distintos, em 1974 e 1975. Viu-se então pela primeira vez a face daquele planeta (ou melhor, metade da sua face), quando a sonda enviou fotografias para a Terra, e descobriu-se que Mercúrio possuía uma atmosfera fina e também um campo um campo magnético.

Com este regresso - que passará ainda por mais dois voos de aproximação, em 6 de Outubro próximo e 29 de Setembro de 2009, antes de a Messenger atingir a órbita de Mercúrio, em 18 de Março de 2011 -, os cientistas ficaram agora a saber que a actividade vulcânica foi mais importante do que se pensava até agora para a formação da sua superfície.

"Conseguimos desta vez imagens de uma parte de Mercúrio que a Mariner 10 nunca chegou a ver", explicou o geólogo Mark Robinson, da Arizona State University e um dos autores dos artigos publicados hoje na Science sobre os dados da Messenger. "Este retrato ainda está incompleto, mas vamos observar a parte que falta na próxima passagem, a 6 de Outubro", sublinhou o investigador, citado pelo Eurekalert, serviço noticioso de ciência, nos EUA.

A grande novidade dos primeiros dados enviados para a Terra pela Messenger tem a ver com o papel do vulcanismo na dinâmica do planeta. Apesar de semeado por crateras, um pouco como a Lua, a sua superfície foi sendo moldada e alterada pela actividade vulcânica que ali existe. Muitas das formas geológicas observadas a 14 de Janeiro são resultantes de movimentos de lava à superfície.

Por exemplo, numa vasta região do planeta chamada Caloris, com cerca de 500 mil quilómetros quadrados, há "grandes quantidades de material que parece de origem vulcânica", adiantou Mark Robinson, notando que isso implica que existam também grandes fontes de magma no interior do planeta.

Outra novidade proporcionada por este primeiro voo da Messenger é a aparente falta de ferro nas formações geológicas visíveis, que os cientistas consideram um pouco enigmática. Uma parte do material rochoso ali existente, e que está mais ou menos disseminado por toda a superfície, e também no subsolo de Mercúrio, como mostraram os espectrómetros a bordo da sonda, parece não conter ferro, o que o torna pouco habitual, segundo os cientistas.

Uma possibilidade para explicar esta situação é que o ferro esteja lá, e a Messenger não o tenha detectado porque a sua assinatura química foi obscurecida por outros minerais. Outra, é que Mercúrio se formou assim mesmo. Tirar a questão a limpo é uma das tarefas a que os cientistas vão certamente dedicar-se, quando houver mais dados.

Fonte: FILOMENA NAVES, in DN, 4 de Julho de 2008

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