domingo, 11 de maio de 2008

Ozono: benéfico ou prejudicial?

O ozono (O3) é um composto químico com efeitos prejudiciais para os seres vivos quando se encontra junto à superfície terrestre: provoca irritações nos olhos e tracto respiratório, é o componente principal do nevoeiro fotoquímico e actua como gás com efeito de estufa.
No entanto, é ao nível da estratosfera (entre 25 a 30 Km da superfície terrestre) que se encontra 90% deste composto, constituindo a chamada camada de ozono, que assume um papel fundamental na protecção da vida na Terra: absorve mais de 95% das radiações ultravioleta (UV), impedindo que estas atinjam a superfície terrestre em quantidades elevadas.
Em quantidades muito pequenas, as radiações UV são úteis à vida, contribuindo para a produção da vitamina D, indispensável ao normal desenvolvimento dos ossos. No entanto, a exposição prolongada e sem protecção a radiação UV causa anomalias nos seres vivos, podendo levar ao aparecimento de cancro da pele, deformações, atrofia e cegueira assim como à diminuição das defesas imunológicas, favorecendo o aparecimento de doenças infecciosas e em casos extremos, à morte. A radiação UV pode também diminuir a taxa de crescimento de plantas e aumentar a degradação de plásticos.
Anualmente e a nível mundial, surgem cerca de 3 milhões de novos casos de cancro da pele e morrem 66 000 pessoas com esse tipo de cancro. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, a redução de apenas 1% na espessura da camada de ozono é suficiente para a radiação UV cegar 100 mil pessoas por catarata e aumentar os casos de cancro da pele em 3%.


Buraco do ozono





Nos anos 80, confirmou-se a destruição progressiva da camada do ozono, com a sua consequente rarefacção, designada por buraco do ozono. Esta diminuição de espessura da camada de ozono facilita a passagem das radiações UV para a superfície terrestre e deve-se principalmente à reacção de moléculas de ozono com radicais de bromo ou cloro, na estratosfera, destruindo-as e consequentemente reduzindo a espessura da camada de ozono. Outros gases, como o óxido de azoto (NO) libertado pelos aviões na estratosfera, também contribuem para a destruição da camada do ozono.

Todos os produtos químicos que destroem a camada de ozono têm duas propriedades comuns: são estáveis e contêm elementos de cloro ou de bromo, como os clorofluocarbonetos (CFC) e o brometo de metilo. A sua estabilidade permite-lhes atingir a estratosfera inalterados, sendo só então quebradas as suas moléculas por acção da radiação UV e libertados os radicais (de cloro ou bromo).

Buraco do Ozono e Efeito de Estufa
A diminuição do ozono estratosférico e as alterações climáticas são problemas ambientais distintos, causados principalmente pela actividade humana e interrelacionando-se de várias formas:
· As substâncias que causam a destruição da camada do ozono, como os CFCs também contribuem para o efeito de estufa;
· A camada de ozono permite manter o balanço de temperatura no planeta Terra. Pensa-se que a rarefacção desta camada reduz o efeito de estufa;
· O aumento de exposição da superfície terrestre a raios UV pode alterar a circulação dos gases com efeito de estufa, aumentando o aquecimento global. Em particular, prevê-se que o aumento de UV suprima a produção primária nas plantas terrestres e no fitoplâncton marinho, reduzindo a quantidade de dióxido de carbono que absorvem da atmosfera;
· Prevê-se que o aquecimento global conduza a um aumento médio das temperaturas na troposfera, podendo arrefecer a estratosfera e, consequentemente, aumentando a destruição da camada de ozono (temperaturas baixas favorecem reacções de destruição do ozono).


Antárctida e Mundo


Desde a descoberta do fenómeno de destruição da camada de ozono nos anos 80, que os satélites têm monitorizado a concentração do ozono estratosférico no planeta Terra, como é o caso do Envisat, da Agência Espacial Europeia, lançado em Março de 2002, e utilizado actualmente para essa missão, elaborando modelos de previsão a partir de dados recebidos. Na figura seguinte pode visualizar as previsões de concentração de ozono estratosférico no mundo, para o dia de hoje.

Apesar dos gases que prejudicam a camada de ozono serem emitidos em todo o mundo - 90% no hemisfério norte e principalmente resultantes da actividade humana - é na Antárctida que a falha na camada de ozono é maior, abrindo-se, anualmente, no Pólo Sul, o buraco do ozono.

A área do buraco de ozono é definida como o tamanho da região cujo ozono está abaixo das 200 unidades Dobson (DUs - unidade de medida que descreve a espessura da camada de ozono numa coluna directamente acima de onde são feitas as medições): 400 DUs equivale a 4 mm de espessura. Antes da Primavera na Antárctica, a leitura habitual é de 275 DUs.

As constantes temperaturas frias do Inverno que se sentem no Pólo Sul contribuem para a formação de nuvens polares estratosféricas que incluem moléculas contendo cloro e bromo. Quando a Primavera polar chega (Setembro), a combinação da luz solar com aquelas nuvens leva à formação de radicais de cloro e bromo que quebram as moléculas de ozono, com consequente destruição da camada do ozono.

Quanto mais frio é o Inverno antárctico mais afectada é a camada do ozono. Em 2002, o Inverno particularmente quente provocou o menor buraco de ozono desde 1988, como se pode ver na seguinte figura.

Área e duração de ozono anual no hemisfério Sul


O buraco do ozono persiste normalmente até Novembro/Dezembro, quando as temperaturas regionais aumentam. O tempo exacto e amplitude do buraco de ozono na Antárctida depende de variações meteorológicas regionais.

O buraco do ozono não se restringe à Antárctida. Um efeito similar, mas mais fraco, tem sido detectado no Árctico e também noutras regiões do planeta, a camada de ozono tem ficado mais fina, permitindo a intensificação dos raios UV e o aparecimento de novos buracos que poderão surgir sobre qualquer latitude.

Protocolo de Montreal

O único método conhecido de protecção da camada do ozono é limitar a emissão dos produtos que o danificam e substitui-los por outros mais amigos do ambiente, como os clorohidrofluorcarbonetos, que contêm pelo menos um hidrogénio, susceptível de ser atacado na atmosfera.

Assim sendo, mais de 60 países assinaram, em 1987, o Protocolo de Montreal , comprometendo-se a reduzir em 50% o uso de CFC até finais de 1999. Na Conferência de Londres, em 1990, concordou-se em acelerar os processos de eliminação dos CFC, impondo a paragem total da produção até ao ano de 2000, tendo sido criado um fundo de ajuda aos países em desenvolvimento para esse fim. Os Estados Unidos, Canadá, Suécia e Japão anteciparam essa data para 1995 e a UE decidiu parar com a produção até Janeiro de 1996.

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o Protocolo de Montreal tem dado bons resultados, uma vez que foi registada uma lenta diminuição da concentração de CFC na baixa atmosfera após um máximo registado no período de 1992/1994. Em Fevereiro de 2003, cientistas neozelandeses anunciaram que o buraco na camada de ozono sobre a Antárctida poderá estar fechado em 2050, como resultado das restrições internacionais impostas contra a emissão de gases prejudiciais.

Sem a forte adesão ao Protocolo, os níveis de substâncias prejudiciais para o ozono seriam cinco vezes maiores do que são hoje. Mesmo assim, a luta pela restauração da camada de ozono tem de continuar, pois aquelas substâncias têm um tempo de vida longo – um radical de bromo ou de cloro pode participar em cerca de 100 000 reacções com o ozono na estratosfera, destruindo-o, antes de voltar para a troposfera. Os cientistas prevêem que o aparecimento anual do buraco do ozono no Pólo Sul dure ainda vários anos.

O êxito do Protocolo de Montreal evidencia o sucesso da cooperação entre países e organizações internacionais para um fim comum. Só o cumprimento integral e continuado das disposições do Protocolo por parte dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento poderá garantir a recuperação total da camada de ozono.

De acordo com a Quercus, Portugal é um dos países da UE que mais contribui para a destruição da camada do ozono: em 2004, Portugal recuperou cerca de 0.5% dos CFC existentes nos equipamentos em fim de vida, como frigoríficos, arcas congeladoras e aparelhos de ar condicionado. A não remoção e tratamento dos CFC ainda presentes nos equipamentos mais antigos, conduz à libertação para a atmosfera de 500 toneladas anuais, segundo a Quercus.

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